Estamos a viver em uma sociedade cada vez mais
exigente quanto aos seus direitos e cada vez mais intransigente quanto
aos direitos e deveres dos policiais. A frase popular de autor
desconhecido sempre é vivenciada tristemente por todas as Policias do
Brasil: “Quando alguém está em perigo, pensa em Deus e clama pela
polícia. Passado o perigo, se esquece de Deus e execra a polícia”. É
dentro deste contexto que a Policia termina levando desvantagem em tudo,
sendo considerada culpada por aquilo que fez, pelo que não fez, pelo
que poderia fazer ou pelo que não pode fazer. O povo ainda não entendeu
que a Polícia só pode prender em flagrante delito ou por ordem judicial.
Se a Polícia não consegue prender um marginal qualquer numa dessas duas
condições é incompetente. Se fora do flagrante e sem mandado judicial
não prende o criminoso, então compactua com o crime ou protege o
marginal. Se uma representação feita pela Polícia Judiciária,
solicitando a prisão preventiva para determinado criminoso demora a sair
ou é indeferida pela Justiça, a culpada é a Polícia que não soube
arrecadar provas suficientes para sustentar o pedido. Se um delinquente é
contumaz em crimes de ação privada e nunca fora denunciado pelas suas
vítimas para o devido processo criminal, por medo ou por outro motivo
qualquer, a culpada é a Polícia que não o prende e põe fim às suas
atividades criminosas. Se a Polícia hoje prende e a Justiça amanhã
solta, a culpada é a Polícia que não soube fazer o Inquérito ou deixou
falhas para a defesa do marginal. Se um bandido é morto durante um
confronto com a Policia, os culpados sempre são os policiais que não
tiveram competência para prendê-lo. Se nessa mesma ação a Polícia
consegue prender o criminoso, é taxada de fraca, medrosa, covarde, pois o
certo era matar o delinquente. Se a Polícia diz que houve troca de
tiros em uma ação, logo é taxada de mentirosa e assassina, pois o
marginal sequer estava armado, plantaram uma arma em sua mão, ou se
estava, o perseguido era apenas um delinqüente eventual não perigoso,
fruto da injustiça social e não teria coragem para reagir a uma ordem de
prisão. Se o policial morre em combate com o marginal não teve o
cuidado que deveria ter, foi inconseqüente ou queria aparecer, ser
herói. Se o policial passa a se proteger ou tem cuidado necessário para
não ser ferido é um covarde que treme de medo ao confronto com os
bandidos. Se em tumulto a Polícia age com rigor para manter a ordem
pública, é truculenta, arbitrária e violenta. Se não age com rigor é
fraca e sonolenta, ao passo que, estando presente na hora do fato é
cúmplice e, se ausente é omissa. Se a Polícia revista um suspeito,
desrespeita o direito constitucional de liberdade do cidadão e, se não
revista é conivente com o crime ou compactua com a marginalidade. Quando
a Polícia pratica excelentes ações preventivas em prol da sociedade ou
investigações perfeitas, apenas está cumprindo a sua obrigação e, quando
tais ações não surtem os efeitos desejados, não passa de um Polícia
incompetente e ineficiente. Dos atos criminosos que geram as ações da
Polícia sempre restam os Direitos Humanos para os marginais, de quando
em vez para as suas vítimas e nunca para os policiais. Ser policial no
Brasil com péssimos salários, mais que sobreviver a miséria, é um
exercício de bravura, risco permanente sem o apoio moral e
institucional, sem reconhecimento estatal ou da sociedade, padecendo do
abandono, da discriminação, da injustiça, da indignidade... A trajetória
do policial é realmente diferente de todas, pois além de tudo, quando
ele acerta com os seus atos de bravura logo ninguém se lembra, mas,
quando erra ninguém se esquece.
Autor:
Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe.
Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela UFS) -
archimedes-marques@bol.com.br -
Via Nosso Parana
09:24
William Felix de Andrade



2 comentários:
Ótimo artigo, Andrade, O Dr. Archimedes Marques, deixa claro que para a segurança funcionar e manter os pilares que a regem, é necessário a integração e o trabalho mútuo da base que é a familia em consonância com o poderes estaduais e executivos e se mim permite, vou mais além pois a legislação brasileira precisa passar por uma formulação, apresentando tal dever sem distinguir classe social ou cor, ser exercida como ordem e não como uma mera rigidez. A policia precisa de mais dignidade e menos corrupção, de profissionais que amam seu trabalho e fazem de seu dever uma contribuição social. Depois de tal análise só posso concluir minhas idéias com o seguinte dizer: “Ubi societas, ib Jus”. Onde há sociedade, há o Direito.
muito bom Andrade...
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