Adolescentes
que conversam sobre o tema com os pais são mais responsáveis, iniciam a vida
sexual mais tarde e têm menos parceiros ocasionais.
Conversar com os filhos sobre sexo ainda é um tabu para
muitos pais. Criados sob uma educação rígida, na qual a sexualidade não fazia
parte do repertório familiar, os adultos de hoje encontram dificuldade para
abordar o assunto com a prole adolescente. Muitos pensam que, ao falar sobre o
tema, vão estimular os jovens a iniciar precocemente a vida sexual. Mas eles
não poderiam estar mais errados. Pesquisa realizada pelo departamento de
pediatria da Universidade de Montreal, no Canadá, confirmou que quanto mais os
pais conversam com os filhos sobre sexo, menos eles são sexualmente ativos. O
estudo ouviu 1.171 adolescentes entre 14 e 17 anos – 45% afirmaram que obtêm
informações sobre sexo com os pais e 32% com os amigos. Entre aqueles que
mantêm um diálogo aberto com os progenitores, 18% são sexualmente ativos. No
grupo dos que não falam com os pais sobre sexo, o dobro (37%) já praticou algum
ato sexual. A porcentagem de jovens que se relaciona com parceiros ocasionais
também é maior entre os que não falam sobre sexo com os pais (41%) comparada
com os que falam (29%).
Aqui no Brasil, o comportamento dos jovens segue a mesma
tendência. No estudo Juventudes e Sexualidade, realizado pela Unesco em 13
capitais brasileiras e no Distrito Federal, mais de 40% dos adolescentes do
País revelaram que obtêm informações sobre sexo com os pais. E dois terços dos
quatro mil pais ouvidos na pesquisa confirmaram que já falaram sobre o assunto
com seus filhos. Entre os temas discutidos estão a prevenção a doenças
sexualmente transmissíveis, métodos para evitar a gravidez precoce e os
aspectos biológicos do sexo. “Mas só isso não basta”, afirma a sexóloga Carmita
Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) da
Universidade de São Paulo. “Tesão, atração e insegurança fazem parte do
cotidiano dos jovens. Cabe aos pais mostrar que esses sentimentos são naturais
e compartilhados por todos nós.”
CUMPLICIDADE
Shyrley conquistou a confiança da
filha Gabriela (à esq.) e da enteada Bruna com muito diálogo
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A assessora de imprensa Shyrley Beruezzo, 39 anos, conhece a
diferença entre falar de sexo como algo biológico ou como uma experiência
envolta em emoções e expectativas. “Minha mãe era auxiliar de enfermagem e só
tocava no assunto sob o prisma médico”, conta. Percebendo que essa abordagem
não aplacava todas as suas dúvidas sobre sexo, Shyrley decidiu que adotaria uma
postura diferente quando se tornasse mãe. Hoje, ela fala abertamente com a filha
Gabriela e com a enteada Bruna, ambas com 15 anos. “No começo elas ficavam
tímidas, mas aos poucos foram se abrindo. Se surge uma dúvida, já vêm me
perguntar”, diz Shyrley. O diálogo tem rendido. As meninas afirmam não ter
pressa para iniciar a vida sexual e não ligam para a opinião de amigos. “Só vai
rolar quando eu conhecer a pessoa certa”, diz Gabriela. “Quero transar apenas
quando sentir que estou preparada”, afirma Bruna.
Para Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, em São Paulo, a postura e a opinião dos pais têm forte influência sobre a maneira como os filhos se relacionam sexualmente. “Construímos nossa personalidade imitando modelos. Se o adolescente tem uma boa relação com os pais, vai copiar seu comportamento, inclusive sexual. Se não tem, fará tudo ao contrário”, diz. Portanto, mostrar uma atitude natural perante o sexo ajuda a destruir mitos e a corrigir informações e conceitos errados, como explica o sexólogo Marcos Ribeiro. “O jovem mais informado, e de forma correta, saberá lidar melhor com sua sexualidade e, no futuro, poderá vivenciá-la sem culpa”, afirma. Isso é o que motiva o radialista David Rangel a manter um canal aberto com o filho, o ator David Lucas, 16 anos. “Sempre respondi às dúvidas do Lucas sobre sexo. Prefiro que ele aprenda em casa e não na rua”, diz Rangel. Essa cumplicidade fez com que o garoto estreitasse os laços de afetividade com a família. “Meu pai e minha mãe são meus melhores amigos. Às vezes conto até demais da minha vida para eles”, declara Lucas, entre risos.
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Fonte: Isto é Independetente.
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