O percentual de pessoas assassinadas em vias públicas no
Brasil cresceu 22% entre 1999 e 2009. No mesmo período, o índice de vítimas que
chegaram a receber algum tipo de atendimento em hospitais e unidades de saúde
caiu 12,6%.
Em média, de cada 10 brasileiros assassinados por arma de
fogo em 2009, apenas três conseguiram chegar a com vida a um hospital para
receber o socorro. Os números contrastam com a ampliação da oferta de serviços
médicos-hospitalares no mesmo período.
Segundo dados do sistema Datasus, do Ministério da Saúde, das 26.902 mortes causadas por agressão de arma de fogo em 1999, 10.858 (ou 40,3% do total) ocorreram em via pública. Em 2009, das 36.624 mortes registradas, 18.009 (49,1% do total) ocorreram em ruas.
Segundo dados do sistema Datasus, do Ministério da Saúde, das 26.902 mortes causadas por agressão de arma de fogo em 1999, 10.858 (ou 40,3% do total) ocorreram em via pública. Em 2009, das 36.624 mortes registradas, 18.009 (49,1% do total) ocorreram em ruas.
Por outro lado, em 1999, 8.881 mortes (33%) aconteceram em
hospitais ou outros tipos de unidades de saúde. Dez anos depois, esse número
passou para 10.567 (28,8%).
As mortes nas ruas contrastam com um detalhe considerado
importante pelas autoridades em saúde ouvidas. Em 2003, houve a implantação do
Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que reduziu o tempo-resposta
dos atendimentos nas ruas, especialmente dos crimes violentos.
Segundo o Ministério da Saúde, o serviço atende hoje a uma
população de 112 milhões de pessoas, em 1.502 municípios --entre eles os
maiores e mais violentos.
"Além disso, o avanço da medicina contribui naturalmente
para que mais vidas sejam salvas dentro dos hospitais, não só em casos de
tiros, mas em todos os problemas de saúde", afirma o médico José Reinaldo
Júnior.
O quê então teria causado um número maior de mortes antes da
vítima receber socorro? Para especialistas em dados de segurança pública, o
aumento do número de óbitos nas ruas tem ligação direta com o aumento do poder
de fogo das armas no país, associada à facilidade em adquirir um revólver ou
pistola ilegalmente.
No levantamento “Impacto da arma de fogo na saúde da população no Brasil”, a mestre em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins, Luciana Phebo, questiona se há rapidez no atendimento nos hospitais de emergência do país, mas aponta o maior poder de fogo das armas como fator contribuinte para o maior número de mortes por arma de fogo antes do socorro.
No levantamento “Impacto da arma de fogo na saúde da população no Brasil”, a mestre em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins, Luciana Phebo, questiona se há rapidez no atendimento nos hospitais de emergência do país, mas aponta o maior poder de fogo das armas como fator contribuinte para o maior número de mortes por arma de fogo antes do socorro.
“A mortalidade em hospitais pode ser considerada como
indicador de acesso e a dos que chegam aos hospitais e morrem pode ser um
indicador negativo da rapidez e da qualidade do atendimento. Apesar de não
termos informações padronizadas sobre o atendimento pré-hospitalar, sabe-se que
hoje em dia, devido à letalidade crescente das armas de fogo, as mortes estão
ocorrendo cada vez mais antes de se chegar aos hospitais”, aponta.
Ainda segundo o estudo, a mortalidade nos hospitais também
mostram um maior poder de fogo das armas. “De cada quatro feridos nos casos de
agressões por arma de fogo que chegaram a ser internados, três morreram”.
A violência das balas também aumenta o tempo médio de
internação por lesão por arma de fogo, que é de sete dias, enquanto que por
acidente de trânsito foi de seis dias, o que aumenta o custo médio em 16,45%.
Letalidade de armas no país superam à de uma guerra
Responsável pelo estudo Mapa da Violência, o diretor do
Instituto Sangari, Julio Jacobo, disse ao UOL Notícias que as armas de fogo do
Brasil possuem uma das maiores letalidades do mundo, com índices piores que os
registrados em guerras.
"Aqui nós temos uma média de cerca de 1,5 morte para
cada internação hospitalar por arma de fogo. Em guerras, esse número é de um
morto para cada 3, 4 ou 5 internamentos. Ao contrário dos países da Europa,
onde os índices de mortes por arma de fogo são pequenos, no país ultrapassa os
70%, o que mostra que existe mais premeditação e menos passionalidade",
afirmou o pesquisador.
Questionados sobre os dados do Datasus, Jacobo disse que
acredita que eles ainda trazem uma subnotificação de mortes violentas nos
hospitais. "O que acontece é que muitos dos registros de armas de fogo se
perdem dentro dos hospitais. Ele dá entrada como vítima de arma de fogo, mas depois
ele acaba sendo notificado Datasus com o tipo de contusão, ou seja, se foi
ferimento no pulmão, um trauma, um problema neurológico. Esse quadro começou a
mudar há de três anos para cá, mas ainda não temos estudos feitos que apontem
um número real", disse.
Um especialista em medicina legal apontou que, especialmente
no Nordeste, é comum ver execuções com muitos tiros, o que reduz
significativamente a chance da vítima chegar com vida a um hospital.
"Já vi casos de pessoas levarem 22 tiros. Ou seja, o indivíduo
vai para matar e não dá mais chance à vítima. As balas mais comuns que vemos
nas necropsias aqui no Nordeste são a do revólver 38 e das pistolas 380 e 765.
Mas o poder de explosão da 765, por exemplo, é muito maior que a de um 38. Ela
é comum, e causa um dano a órgãos e tecidos muito grande. Isso, claro, causa
uma maior letalidade”, explicou o legista do IML (Instituto Médico Legal) de
Pernambuco, que pediu para não ser identificado.
Já os professores Claudio Beato e Luís Felipe Zilli, do
Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal
de Minas Gerais, citam no estudo “A Estruturação de Atividades Criminosas”
outro ponto que contribui para o aumento da mortalidade: o acesso fácil às
armas de fogo e suas balas.
“No início dos anos oitenta, pouco mais de 40% dos homicídios
eram praticados por arma de fogo. Hoje são mais de 70%. Pode-se atribuir às
armas o crescimento dos homicídios desde meados dos anos 80 até 2004. Hoje é
cada vez mais barato e fácil ter acesso a elas no mercado ilegal. Com pouco
mais 150 reais é possível obter um revólver”, dizem.
Fonte: UOL
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