(Diego) |
Há vinte anos
trabalhando como mestre de banda de música, hoje, quase deixando o ofício,
tendo em vista o descaso e o abandono do poder público, deparo-me com situações
que servem como uma injeção de ânimo, fazendo-me crer que mesmo com todas as
adversidades, a música exerce um papel importante em nossa sociedade e é
através dela que também podemos lograr dias melhores. É nesse sentido que passo
a narrar uma história comovente, triste, porém ainda corriqueira em nossa
sociedade paradoxal.
Certo dia, em viagem
informal à cidade de São Miguel-RN, encontro um amigo popularmente conhecido
como seu Francisco. O mesmo, como
sempre cordial e espontâneo, demonstrara naquele encontro certa indiferença,
logo percebida por mim.Ao questioná-lo por tal anormalidade, o mesmo,
emocionado, dá-me um depoimento sobre a situação vivenciada por seu filho
Diego, um jovem maravilhoso, mas que desde a infância sofre discriminação por
ser ESPECIAL, sendo por isso excluído do convívio social por ignorância,
preconceito e intolerância de algumas pessoas. O querido Diego ao ser rechaçado
do rol de atividades sócio-culturais daquele município, e pormenorizações de
alguns, chegara algumas vezes entrar em depressão, e atentar contra própria vida.
Já emocionado, seu pai
fala do gosto que Diego tem pela musica e da relação que tem com sua flautinha
de brinquedo, uma flauta agradável, que nas horas mais difíceis é tocada de uma
forma descompassada para nela exprimir através de sons todos os seus
sentimentos, muitos dos quais tristes. Veio-me logo à memória um filme por mim assistido
de titulo MEU NOME É RÁDIO, onde mostrava toda dificuldade de inclusão de um
jovem especial. Foi através dessa conversa que seu pai pediu para incluir Diego
na banda de musica de sua cidade, pois ao vê-la tocar, sentia uma alegria
imensa, alimentando um sonho de participar daquele grupo de jovens músicos. No
final da conversa, seu Francisco
quase não acreditou quando o falei para que faria de tudo para realizar este
pequeno e grande sonho daquele rapaz com o maestro da banda local, e que certamente conseguiria um lugar todo ESPECIAL,
pois música não é para quem tem dom e sim para quem quer superar limites.
Ao Sai rapidamente daquele
local, fui falar com o responsável pela banda de musica e expus todo o
ocorrido, toda a história de amor de um pai para com seu filho especial.
Atencioso e sempre cortês, o maestro Euzeli prontamente acatou a sugestão ora
feita por mim, disponibilizando logo no primeiro ensaio sequente uma panderola
(instrumento de percussão parecido com o ganzá) para que Diego aprendesse o
repertório a ser tocado na festa do padroeiro com seu novo instrumento. Tudo
isso deixou-me em uma felicidade imensa, vindo a partir dali, a contar os dias
para que pudesse retornar a São Miguel e ver o mais novo componente da banda de música local. Dias se passaram, e
como de praxe, desloquei-me àquela cidade para rever os amigos e tocar na banda
em que fui maestro, além de usufruir das festividades religiosas. Lá chegando,
dirijo-me ao local de ensaio daquela banda e deparo-me com Diego, uniformizado,
numa alegria impar, e ao tocar o primeiro dobrado com a banda percebi que para
ele, aquele era um momento único, que transcende além de nossos olhos, invade
os nossos sentimentos. Passando por tudo, notei quanto somos pequenos para não
aceitarmos em nosso meio, pessoas de coração tão grande, que diante de tamanha
dificuldade, alcança a felicidade em momentos tão simplistas aos nossos olhos
nus. Tenho esperanças de que poderemos viver em um mundo melhor, sem tanta
ganância, inveja ou hipocrisia, e que um simples ato de carinho pode modificar
a vida de um ser humano que é mais do que especial: é agora feliz de verdade.
Parabéns DIEGO pela vitória.
Por Ewerton
Luiz Lopes
O
BLOG COMENTA: Primeiramente quero parabenizar o Maestro
Ewerton Luiz pela iniciativa e sensibilidade. Tomando como base o texto acima
narrado, não há dúvida que a inclusão das pessoas portadora de quaisquer
necessidades especial na vida social é de suma importância para o convívio familiar,
das pessoas e principalmente para fortalecer a sociedade. Sobretudo, a inclusão
social é uma questão de políticas públicas, pois cada política pública foi
formulada e basicamente executada por decretos e leis, assim como em
declarações e recomendações de âmbito internacional.
Nos dias atuais
ouve-se muito falar sobre inclusão social, que nada mais é que trazer aquele que é
excluído socialmente por algum motivo, para uma sociedade, para que participe
de todos os aspectos e dimensões da vida como: o econômico, o cultural, o
político, o religioso e todos os demais. Infelizmente, pode-se dizer que inclusão
social é um tema distante da realidade social do Brasil.
Segundo Pastore (2007), a pessoa portadora de necessidades
especiais possui uma vida muito sofrida, e afirma que esse sofrimento advém da
combinação de suas limitações com os obstáculos criados pela sociedade.
Por William Félix de
Andrade
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