A estrada entre Lagoa Salgada e Vera Cruz, a RN-160, tem muitas curvas.
Os trechos mais sinuosos e escuros são as últimas lembranças da fria
noite de domingo que viveu o plantador Humberto Guedes de Moura, 28
anos. Ele perdeu o controle de sua moto, uma Honda Fan 125 cilindradas,
ao deixar um amigo na cidade vizinha. Na descida de uma das curvas,
observou de longe dois homens em uma moto maior, uma 150 cilindradas.
"Pensei que eram bandidos querendo me assaltar", conta. "Reduzi a
velocidade e 'puxei' a quinta [marcha]. Não vi que tinha um quebra-molas
porque tava olhando no retrovisor. Cai. Só acordei quando me levaram
pro hospital". O homem fraturou o osso da testa, teve escoriações e está
afastado por tempo indeterminado do trabalho. Virou estatística de
trânsito e de saúde pública.
O relato é extremamente comum nos corredores do maior hospital público do Rio Grande do Norte. Acidentes de trânsito lotam o Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, no Walfredo Gurgel, para onde vai a maioria dos acidentados graves do Estado. O RN, aliás, num período de 15 anos, entre 1996 e 2011, registrou um aumento considerável no percentual de ocorrências: 67,3%. No ano passado foram 656 acidentes, quando em 1996 eram 392. Os dados foram divulgados essa semana pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), com base em informações da Subcoordenadoria de Estatística e Análise Criminal.
Além do número de acidentes e dos locais de maior incidência dos últimos quinze anos, os números da Sesed atestam que a maior parte das vítimas de acidentes de trânsito se assemelham ao perfil de Humberto Guedes de Moura. Em geral são homens (84,9%), solteiros (61%), jovens entre 26 e 33 anos de idade (21,9%) e naturais do Rio Grande do Norte (90,2%). A única parte em que o plantador Humberto não se enquadra é ser natural do Estado. Ele nasceu em São Paulo, mas mora aqui desde a adolescência.
As estatísticas se baseiam nos laudos do Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP), dos hospitais de trauma do Estado, como o Walfredo Gurgel, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Comando de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Parte do crescimento no número de acidentes no período de mais de uma década se justifica pelo aumento da frota. O Estado tinha 204 mil veículos em 1996, e passou a ter 868 mil no ano passado, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Isso significa dizer que a quantidade de veículos nas ruas e rodovias cresceu espantosos 325,2%, acompanhando a seta para cima do número crescente de acidentes e acidentados.
Perigo de morte
Se há acidentes, a probabilidade de haver mortes também é maior. A taxa de mortes, de acordo com a frota, gira em torno de 7,6 hoje, mas já foi de 19,2 em 1996, isso considerando um índice de uma morte para 10 mil veículos circulando. A região metropolitana de Natal, especialmente a capital, Parnamirim e Macaíba, além das estradas no entorno de Mossoró e no trecho entre Tangará e Santa Cruz podem ser consideradas as vias mais perigosas. É nas estradas mais sinuosas desses locais onde ocorrem mais acidentes.
Em Natal, 19 quedas de motos por dia
Recentemente o Rio Grande do Norte foi notícia nacional no quesito acidentes de motos, ocupando o terceiro lugar onde mais pessoas morrem sobre duas rodas. No Samu Natal, são registradas uma média de 19 atendimentos por causa de queda de motos por dia. Num mês, são 600 pessoas. No Samu Metropolitano, que atende BRs e rodovias estaduais, redução de 40%. As ocorrências mais comuns são com carros, ônibus e caminhões. Custo com deslocamento do socorro, com o sofrimento das famílias, com os seguros obrigatórios, com as cirurgias do Sistema Único de Saúde (SUS), e com internações.
"As motos são máquinas mortíferas. Veículos perigosos especialmente pelo fato de que não se sustentam sozinhas. Se você soltar uma moto ela cai. Ela é feita para cair, digamos assim. Com o carro é diferente. Um carro que cai num buraco fura um pneu. Numa moto, como a defesa é o próprio condutor, ele provavelmente vai se ferir. E hoje vivemos uma epidemia de trauma relacionados ao trânsito, especialmente por causa das motos", opina o médico intensivista e coordenador do Samu Metropolitano, Luiz Roberto. "É um veículo perigoso porque, se não houver atenção máxima, o risco de acidentes é muito grande, e isso pode ser mortal. Em qualquer acidente de moto não há apenas danos materiais".
Imprudência
O projetista e estudante André Oliveira, que é motociclista, não observa a questão dessa maneira. Ele acredita que a maioria dos acidentados são trabalhadores, que usam equipamentos obsoletos e mal cuidam da manutenção e uso de luzes, luvas, capacetes e freios. "São trabalhadores descuidados que se acidentam bem mais do que motociclistas preparados. Absurdos feitos por essas pessoas nas estradas mancham a reputação do motociclista. O motivo dos acidentes não são as motocicletas. A pressa, imprudência e principalmente o desrespeito são os grandes problemas", opina.
O plantador Humberto Guedes, que abriu essa reportagem, também se enquadra na característica desrespeito às leis de trânsito. "Não usei capacete. Era costume sair sem capacete porque nunca tinha me acontecido nada", reconhece. "Agora quando eu sair daqui do hospital, se eu for sair montado numa moto e for ao quintal de casa, vou usar capacete", garante ele, que pelo menos sobreviveu e deve ficar bem até receber alta.
O relato é extremamente comum nos corredores do maior hospital público do Rio Grande do Norte. Acidentes de trânsito lotam o Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, no Walfredo Gurgel, para onde vai a maioria dos acidentados graves do Estado. O RN, aliás, num período de 15 anos, entre 1996 e 2011, registrou um aumento considerável no percentual de ocorrências: 67,3%. No ano passado foram 656 acidentes, quando em 1996 eram 392. Os dados foram divulgados essa semana pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), com base em informações da Subcoordenadoria de Estatística e Análise Criminal.
Além do número de acidentes e dos locais de maior incidência dos últimos quinze anos, os números da Sesed atestam que a maior parte das vítimas de acidentes de trânsito se assemelham ao perfil de Humberto Guedes de Moura. Em geral são homens (84,9%), solteiros (61%), jovens entre 26 e 33 anos de idade (21,9%) e naturais do Rio Grande do Norte (90,2%). A única parte em que o plantador Humberto não se enquadra é ser natural do Estado. Ele nasceu em São Paulo, mas mora aqui desde a adolescência.
As estatísticas se baseiam nos laudos do Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP), dos hospitais de trauma do Estado, como o Walfredo Gurgel, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Comando de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Parte do crescimento no número de acidentes no período de mais de uma década se justifica pelo aumento da frota. O Estado tinha 204 mil veículos em 1996, e passou a ter 868 mil no ano passado, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Isso significa dizer que a quantidade de veículos nas ruas e rodovias cresceu espantosos 325,2%, acompanhando a seta para cima do número crescente de acidentes e acidentados.
Perigo de morte
Se há acidentes, a probabilidade de haver mortes também é maior. A taxa de mortes, de acordo com a frota, gira em torno de 7,6 hoje, mas já foi de 19,2 em 1996, isso considerando um índice de uma morte para 10 mil veículos circulando. A região metropolitana de Natal, especialmente a capital, Parnamirim e Macaíba, além das estradas no entorno de Mossoró e no trecho entre Tangará e Santa Cruz podem ser consideradas as vias mais perigosas. É nas estradas mais sinuosas desses locais onde ocorrem mais acidentes.
Em Natal, 19 quedas de motos por dia
Recentemente o Rio Grande do Norte foi notícia nacional no quesito acidentes de motos, ocupando o terceiro lugar onde mais pessoas morrem sobre duas rodas. No Samu Natal, são registradas uma média de 19 atendimentos por causa de queda de motos por dia. Num mês, são 600 pessoas. No Samu Metropolitano, que atende BRs e rodovias estaduais, redução de 40%. As ocorrências mais comuns são com carros, ônibus e caminhões. Custo com deslocamento do socorro, com o sofrimento das famílias, com os seguros obrigatórios, com as cirurgias do Sistema Único de Saúde (SUS), e com internações.
"As motos são máquinas mortíferas. Veículos perigosos especialmente pelo fato de que não se sustentam sozinhas. Se você soltar uma moto ela cai. Ela é feita para cair, digamos assim. Com o carro é diferente. Um carro que cai num buraco fura um pneu. Numa moto, como a defesa é o próprio condutor, ele provavelmente vai se ferir. E hoje vivemos uma epidemia de trauma relacionados ao trânsito, especialmente por causa das motos", opina o médico intensivista e coordenador do Samu Metropolitano, Luiz Roberto. "É um veículo perigoso porque, se não houver atenção máxima, o risco de acidentes é muito grande, e isso pode ser mortal. Em qualquer acidente de moto não há apenas danos materiais".
Imprudência
O projetista e estudante André Oliveira, que é motociclista, não observa a questão dessa maneira. Ele acredita que a maioria dos acidentados são trabalhadores, que usam equipamentos obsoletos e mal cuidam da manutenção e uso de luzes, luvas, capacetes e freios. "São trabalhadores descuidados que se acidentam bem mais do que motociclistas preparados. Absurdos feitos por essas pessoas nas estradas mancham a reputação do motociclista. O motivo dos acidentes não são as motocicletas. A pressa, imprudência e principalmente o desrespeito são os grandes problemas", opina.
O plantador Humberto Guedes, que abriu essa reportagem, também se enquadra na característica desrespeito às leis de trânsito. "Não usei capacete. Era costume sair sem capacete porque nunca tinha me acontecido nada", reconhece. "Agora quando eu sair daqui do hospital, se eu for sair montado numa moto e for ao quintal de casa, vou usar capacete", garante ele, que pelo menos sobreviveu e deve ficar bem até receber alta.
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