Consiste a presente descrição numa viagem
pelas atratividades históricas, culturais, econômicas e naturais existentes no
percurso entre o município de Santa Cruz, terra da maior estátua católica do
mundo, e Currais Novos, cidade considerada como a capital sul-americana da scheelita.
O alto de Santa Rita de Cássia, na cidade de Santa Cruz, distante 111 km
de Natal, capital do Rio Grande do Norte, é um complexo turístico-religioso,
onde está localizada a maior imagem católica do mundo, medindo 56 metros de
altura.
A viagem começa no Rio Inharé, que foi
barrado para a construção do açude do mesmo nome, acumulando mais de 17 milhões
de metros cúbicos de água, maior reservatório do município de Santa Cruz.
Em 1981, a maior enchente do Rio Grande do
Norte destruiu grande parte da cidade, principalmente as construções das
margens do Rio Trairi, que dá nome à região polarizada por Santa Cruz.
Culturalmente rica Santa Cruz é um seleiro de intelectuais, que se
aglutinam em torno da Associação dos Poetas e Escritores Santa-cruzenses
(APOESC). Compõe a APOESC o cordelista Gilberto Cardoso dos Santos, autor do
folheto “O Doutor e o Cangaceiro – A Saga de Doutor Epitácio Andrade com
Jesuíno Brilhante e a Família Limão.
Na música “Outdoor de Cultura Popular”, que
homenageia o folclorista Luiz da Câmara Cascudo, o compositor Dudé Viana
resgata uma riqueza mineral comercializada em Santa Cruz: a granada, “pedra de
doze faces”.
Faz parte do acervo do Museu Rural Auta Pinheiro, as correntes do
cativeiro do poeta Fabião das Queimadas (1848-1928), que comprou sua carta de
alforria com sua poesia e tocando rabeca. O poeta da liberdade nasceu na
Fazenda Queimadas, que na época estava localizada no município de Santa Cruz, e
hoje fica no município de Lagoa de Velhos.
A 5 km de Santa Cruz, fica o acesso ao
município de Lajes Pintadas, que tem grande produção mineral de águas marinhas,
“a miss das pedras”.
Continuando a viagem, sobe-se a Serra do
Doutor, onde na comunidade Malhada Vermelha, no município de Campo Redondo,
encontra-se o monumento alusivo a resistência sertaneja à Intentona Comunista.
Buscando expandir a revolução comunista para o sertão, o exército vermelho
avançava pelo interior do Rio Grande do Norte, quando foi enfrentado pelos
sertanejos, que entrincheirados dispersaram os revoltosos, no dia 25 de
novembro de 1935, durante episódio que ficou conhecido como “O Fogo na Noite da
Serra do Doutor”.
A principal testemunha do “Fogo na Noite da
Serra do Doutor” é o autodidata Francisco Anominondas Filho, Chico Amarante,
com 94 anos, habitante do município de Campo Redondo, e autor do livro: “Serra
do Doutor e suas Origens”, publicado em março de 1998, que narra o conflito
final da Intentona Comunista no Rio Grande do Norte.
O professor de dança Luiz Barbosa de Melo,
natural de Campo Redondo, é um fomentador da cultura nordestina. Há cerca de
dois anos, incorpora o personagem “O Lampião de Ponta Negra” e, durante as
noites naquela Praia de Natal, vende produtos culturais relacionados ao
Nordeste.
Recentemente, o professor Luiz Barbosa
produziu um CD com uma coletânea de músicas de cantores nordestinos que vai do
rei do baião, passando por Elino Julião, até chegar aos Meirinhos do Forró.
No alto da Serra do Doutor existe uma grande
produção de frutas nos quintais dos agricultores familiares, e ao longo da
estrada são encontradas várias barraquinhas que vendem cajarana, siriguela,
acerola, umbu, jaca, pinha e melancia, além de maxixe e jerimum caboclo e de
leite.
Separando a região do Trairi do Seridó, o agreste
do sertão, na fronteira do município de Campo Redondo com Currais Novos está o
Riacho do Maxixe, que é uma hortaliça muito comum no sertão e foi trazida do
continente africano para o Brasil pelos escravos no período colonial.
O facheiro é a cactácea mais abundante na
transição do agreste para o sertão. Predomina nas regiões serranas, e é muito
comum sua presença ao longo da viagem entre a terra da maior imagem católica do
planeta para a capital da scheelita.
Acerca de 17 km de Currais Novos fica a
estrada de acesso ao município serrano de Cerro-corá, que no mês de maio sedia
um festival de inverno, considerado uma das principais atratividades
gastronômicas do interior do estado do Rio Grande do Norte.
A mesma estrada de Cerro-corá dá acesso ao
município de Bodó, importante pólo minerador da região da Serra de Santana,
onde se localiza a Bodó Mineração e a Mina da Cafuca.
A religiosidade sertaneja está na toponímia
das localidades. Acerca de 10 km de Currais Novos se encontra o povoado Cruz,
fronteiriço com o estado da Paraíba.
Seguindo
pela BR-226, nos 61 km que separam Santa Cruz de Currais Novos, entre o Povoado
Cruz e a zona urbana da capital da scheelita, na margem direita do Riacho
Maniçoba, um memorial construído por familiares registra a morte do cangaceiro
Francisco Pereira Dantas, Chico Pereira, na noite de 28 de outubro de 1928.
Chico Pereira era natural de Nazarezinho, no
interior da Paraíba, estava preso no Rio Grande do Norte acusado de assalto,
suspeitas que jamais se confirmaram. Também foi acusado de fazer uma aliança
com Virgulino Ferreira da Silva, “Lampião”, o rei do cangaço, para saquear a
cidade de Sousa, “como forma de vingança devido a injustiças pela morte de seu
pai”.
A principal obra que relata a saga do
cangaceiro Chico Pereira é o livro “Vingança, Não!”, de autoria de seu filho o
padre F. Pereira da Nóbrega, cujo prefácio tem a escritora Raquel de Queiroz
como autora.
Há suspeitas de que questões políticas
determinaram a morte do cangaceiro pela polícia potiguar. Os restos mortais foram
sepultados no cemitério de Currais Novos.
A 06 km de Currais Novos, no Seridó Oriental
do Rio Grande do Norte, um grande artefato de cerâmica, em forma de panela,
sinaliza a entrada da mais pobre comunidade remanescente de quilombos do
estado: o Sítio Bom Sucesso, conhecido como “Negros do Riacho”.
Antes de chegar a Currais Novos, o transeunte
pode se banhar nas águas do Riacho da Sussuarana, nos períodos de invernada.
Na entrada da cidade de Currais Novos, um
parque de estátuas com personagens típicos da região oferecem as boas vindas
aos visitantes. De um lado da estrada está um casal formado por um vaqueiro e
por uma apanhadeira de algodão.
Do outro lado da estrada, na entrada da
capital da scheelita, com sua bateia, instrumento de peneirar a areia para
separar os metais, está o velho minerador, que começou suas atividades na
região seridoense, na década de 40 do século passado, durante a segunda guerra
mundial.
Da scheelita se extrai o tungstênio, que faz
a ponta da caneta esferográfica, mas também faz a “cabeça” das ogivas
explosivas.
A produção mineral em Currais Novos resultou
em acumulação de capital social. Mais de 90% da cidade é saneada, 95% dos
domicílios têm acesso ao abastecimento d’água, quase 100% do município está ligado
a rede elétrica, a cidade tem várias emissoras de televisão.
Os lugares de memória do ciclo scheelítico se
espalham pela cidade. A imponência do Hotel Tungstênio reforça os áureos tempos
da riqueza mineral.
No velho coreto, as moças em busca de seus
consortes, deliciavam-se tomando “gasosa” e escutando o som das rabecas.
Tudo isso acontecendo sob os olhares do
monumento alusivo ao centenário da cidade de Currais Novos (1808-1908).
Ou simplesmente, acontecendo numa
cumplicidade arquitetonicamente harmônica, unindo modernidade e historicidade.
O principal lugar de memória da capital da
scheelita é o Parque Temático da Mina Brejuí, a maior da América do sul,
localizado a pouco mais de 05 km do centro de Currais Novos. O parque envolve
um conjunto de instalações estéticas, a vila dos mineradores, a igreja, um
museu, as dunas de rejeitos e a própria mina com túneis de vários kilômetros de
extensão.
Já na praça do acesso ao Parque Temático da
Mina Brejuí se encontra uma grande instalação metálica, correspondente a um
minerador de lata.
No entorno da Mina Brejuí se formou a vila
dos mineradores, que acolhem os visitantes desenvolvendo o turismo cultural.
A religiosidade sertaneja está presente no
Parque de Brejuí.
O museu-memorial Tomaz Salustino guarda a
história da exploração mineral e da família, que já esteve entre as maiores
fortunas do mundo.
Apesar dos impactos ambientais, as dunas de
rejeitos da mineração se constituem em atração a parte.
O Parque Temático Mina Brejuí é visitado durante
todos os meses do ano, por turistas do mundo todo, e sua produção mineral é
quase toda destinada ao mercado externo, empregando diretamente 203
trabalhadores.
A viagem da maior estátua a capital da
scheelita ainda passa pelo Rio Totoró, como recomenda a música “Outdoor de
Cultura Popular”, de Dudé Viana.
Durante a II Mostra de Cinema de Currais
Novos, realizada no final de setembro do ano passado, os escritores Dudé Viana
e Epitácio Andrade participaram de uma roda de conversa sobre o tema “saúde
mental, cultura popular e cinema”. Epitácio Andrade fez uma exposição oral
sobre alguns filmes que têm interfaces com a cultura popular e a saúde mental
destacando “Bicho de Sete Cabeças”, uma produção cinematográfica baseada no
livro “Canto dos Malditos”, do militante antimanicomial Austregésilo Carrano
Bueno, e Dudé Viana apresentou a música “A Ponte”, que compõe a trilha sonora
do curta-metragem “Pegadas de Zila”, do cineasta Valério Fonseca, sobre a
poetisa Zila Mamede, que passou sua infância em glebas Currais-novenses.
Digno de uma produção cinematográfica é o
monumento histórico-natural representado pelo cruzeiro da pedra do navio,
localizado numa das entradas da cidade-polo mineral.
A viagem da maior
estátua católica do mundo a capital sul-americana da scheelita finda no Canyon dos Apertados, que é uma formação natural localizada no município de
Currais Novos/RN/Brasil. Está localizado na Fazenda Aba da Serra, de
propriedade particular. É o único canyon de rocha granítica do mundo. Uma das
sete maravilhas do Rio Grande do Norte.
Boa Viagem!
Texto: Epitácio de Andrade Filho, Médico Psiquiatra e Pesquisador Social
2 comentários:
Trabalho maravilhoso,muito talento e dedicação NA DIFUSÃO DAS RIQUEZAS em sentido amplo do RN...Parabéns!
Parabéns ao companheiro Andrade, por postar essa grande matéria, do Dr. Epitácio pesquisador das coisas mais bonita de nossas terras potiguares, coisa bonita como a gruta , partilhei e já recebi vários comentários...abraço.
Postar um comentário
Sua opinião é importante! Este espaço tem como objetivo dar a você leitor, oportunidade para que você possa expressar sua opiniões de forma correta e clara sobre o fato abordado nesta página.
Salientamos, que as opiniões expostas neste espaço, não necessariamente condizem com a opinião do Blog do Sargento Andrade.