Rio de Janeiro – Dados do Ministério da Saúde indicam que 35.233
brasileiros morreram, em 2010, vítimas de armas de fogo. O número
corresponde a 70,5% dos 49.932 assassinatos cometidos no país, no ano
passado. Se forem considerados os suicídios, os acidentes e mortes de
intenção indeterminada, as armas de fogo foram os instrumentos
responsáveis pela morte de mais de 38 mil pessoas. O levantamento faz
parte do Sistema de Informações de Mortalidade publicado regularmente
pelo ministério em seu site.
Os números, que ainda são preliminares, são inferiores aos registrados
em 2009 (39,6 mil mortes violentas, sendo 36,6 mil homicídios provocados
por armas de fogo), mas segundo o secretário executivo do Ministério da
Justiça, Luiz Paulo Barreto, as taxas de 2010 ainda são consideradas
“altas taxas”, mesmo se levando em conta que as comparações devem ser
feitas com cuidado pelo fato dos dados serem preliminares. Barreto
comentou o levantamento do Ministério da Saúde no Seminário de
Desarmamento, Controle de Armas e Prevenção à Violência, promovido pela
representação das Nações Unidas no Brasil em parceria com a Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
“Várias políticas de segurança pública têm sido levadas a cabo pelo
Ministério da Justiça, mas, todos os dias, vemos casos de pessoas que
sofrem acidentes domésticos com armas de fogo, de uma pessoa que se
envolve em briga de bar e mata a outra por estar com uma arma de fogo,
brigas de trânsito, brigas de vizinhos. São pessoas que não eram
criminosas e passam a ser por estar com uma arma de fogo em suas mãos”,
disse.
Segundo Barreto, para reverter esse quadro, é preciso reduzir o número
de armas de fogo nas mãos de civis. Entre as políticas voltadas para
esse objetivo estão as campanhas de desarmamento. A campanha mais bem
sucedida foi a realizada entre os anos de 2004 e 2005, logo após a
aprovação do Estatuto do Desarmamento em 2003, quando mais de 500 mil
armas foram entregues voluntariamente por cidadãos ao Estado e,
posteriormente, destruídas.
Dados do Ministério da Saúde mostram que as mortes por armas de fogo
caíram de 39,3 mil, em 2003, para 37,1 mil, em 2004, e 36 mil, em 2005.
Na campanha deste ano, que começou há sete meses e se encerra no dia 31,
já foram recolhidas 35 mil armas.
O coordenador das ações de desarmamento da organização não
governamental Viva Rio, Antônio Rangel Bandeira, no entanto, cobra uma
melhor fiscalização das autoridades governamentais sobre a venda de
armas no país. “O que precisamos, de fato, é aplicar a lei [Estatuto do
Desarmamento]. A lei existe e ela é boa. O Estatuto do Desarmamento está
sendo copiado por oito países no momento, como uma das leis mais
avançadas do mundo. Mas o Brasil legal não tem nada a ver com o Brasil
real”, disse Bandeira.
Bandeira cita, como exemplo, a facilidade para se comprar armas de fogo
nas lojas do Rio de Janeiro. Já Barreto diz que há, sim, um controle
efetivo realizado pela Polícia Federal e pelo Exército, que vai desde a
fabricação da arma até a venda ao cidadão. “A arma tem um controle desde
a indústria, com numeração, código de série, vendedor, comprador. No
Brasil, tudo isso é rastreado. O que acontece é que, muitas vezes a arma
que o cidadão tem em casa, é roubada”, afirma.
Agência Brasil
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